26 março 2012

Redenção Folia - Carnaval Familia - 2012 - Bloco da Dita Gorda


Como surgiu o costume que inspirou a criação do Bloco da Dita Gorda...

Para entendermos a origem dos costumes e dizeres que, por sua vez, deram origem ao bloco, vamos entender um pouco da história  da obesidade, das transformações do corpo da mulher e sua relações com a moda e padrões de beleza...

A obesidade sempre esteve presente de forma marcante nos seres humanos desde os tempos da pré-história  e em muitas épocas, sendo vista como símbolo da beleza e da fertilidade. Estudiosos resgatando a história da obesidade descobriram que no Período Neolítico (aproximadamente 10.000 anos a.C.), as “deusas” eram admiradas e cultuadas por seus quadris, coxas e seios volumosos.
(Fonte:Artigo -Cirurgia Bariátrica do  Fitness Performance Journal,Volume 05-Número 03-maio/junho 2006).

E a analogia entre corpolência e beleza se perpetuou por muito tempo ao longo dos séculos...

A definição social da boa corpulência (l´embonpoint ou em-bom-estado) era bem outra. A  entrada do açúcar e da batata no cardápio europeu modificou os modelos de beleza feminina. O historiador Jean-Louis Flandrin foi o primeiro a apontar a transformação sofrida pelos cânones estéticos, por meio da introdução destes lipídios. 

Entre os séculos XVI e XVIII, a Europa abandonava os seios pequenos e quadris estreitos das mulheres retratadas por pintores como Dürer, para mergulhar nas dobras rosadas das “gordinhas” de Rubens e Rembrandt. Gordura não era só sinônimo de beleza, mas, também, de distinção social. 

Nas sociedades do Antigo Regime, os indivíduos se distinguiam por sua capacidade em escolher determinados alimentos, em detrimento de outros. A nobreza podia se dar ao luxo de consumir cremes, manteiga, açúcar e molhos ácidos e temperados. Os pobres cozinhavam o pouco que comiam, com banha. Os derivados da cana, por sua vez, eram tão caros que só podiam ser consumidos como remédio. Nestas sociedades, o regime das elites ditava um ideal feminino que andava de par com a corpulência das grandes damas. Não havia formosura, sem gordura! E gordura era sinônimo de riqueza. 

Havia também uma correlação direta entre gosto alimentar e gosto sexual. Na poesia e na literatura do mesmo período, observa-se que os adjetivos empregados para designar a mulher amada e a comida são os mesmos: “delicada, suculenta, doce, deliciosa”, etc

 Gordura e formosura no Brasil...
Apesar do declarado horror à obesidade, os viajantes estrangeiros reconheciam, contudo, que o modelo “cheio”, arredondado, correspondia ao ideal de beleza dos brasileiros, o que explicavam pela decorrência do gosto de seus ancestrais. Gorda e bela eram qualidades sinônimas para a raça latina meridional, incluídos aí os brasileiros, e para explicar essa queda pela exuberância, era invocada a influência do sangue mourisco. Dizia-se que o maior elogio que se podia fazer a uma dama no país era estar a cada dia “mais gorda e mais bonita”

Gilberto Freyre chega a dizer com graça, que as “vastas e ostensivas ancas” das matronas brasileiras eram verdadeiras “insígnias aristocráticas”. A “descadeirada”, sendo olhada como deficiente de corpo! A mulher de formas mais salientes tendia a ser considerada a mais ortodoxamente feminina. Ancas eram o símbolo da mulher sexuada, desejável e fecunda. Feliz prisioneira dessas formas, ela sublinhava a relação entre sua conformação anatômica e sua função biológica e, ao mesmo tempo, sagrada: reproduzir, procriar, perpetuar.
As ancas ganharam uma grande aliada com a moda das “anquinhas”. Essa espécie de enchimento artificial, capaz de valorizar o baixo corporal feminino, deu ao posterior feminino uma forma ainda mais luxuriante. Se preciso fosse, usavam-se suplementos de variado tipo, feitos de barbatanas, lâminas de ferro, pufs de jornal e até “pneumáticos” para preencher e valorizar as virtudes calipígias das que não as tinham.  
(Mary Del Priore, Corpo a corpo com a mulher – história das transformações do corpo feminino no Brasil, São Paulo, Senac, 2002.)
Rodrigão(Dita Gorda) Carlos Aquino(Idealizador do bloco) e Edil (Dita Magra)
  A origem da idéia do bloco...

De acordo com o Sr. Carlos Benedito de Aquino, a idéia do referido bloco surgiu para homenagear sua mãe, sua tia e um costume bem antigo, talvez resultante de valores estéticos sociais que se sucederam ao longo dos séculos...

Carlos conta que, a partir da observação constante de um hábito que  sua tia-avó, tinha, assim como muitas pessoas ainda têm de, gentil e carinhosamente elogiar as pessoas fazendo uma simplória  inocente analogia entre  corpolência e beleza, talvez fruto de um passado no qual ambos caracteres  se faziam sinônimos, como vimos nos trechos do  artigo da historiadora Mary Del Priore.

Carlos Aquino conta que sua mãe, a D. Benedita, mais conhecida como Dita ou Ditinha, havia sido criada pela tia, a D. Dolores, mais conhecida como Lora, as quais cultivavam uma pela outra grande amor e carinho. Tanto a D. Lora como a D. Ditinha moraram, por muitos tempo em Redenção da Serra. Porém, há alguns anos , em virtude de uma série de questões, sua mãe, D. Ditinha foi-se embora morar no município de Taubaté e D. Lora ficara em Redenção, separadas por alguns quilômetros...Sempre que voltava  para Redenção, a d. Ditinha visitava sua Tia – D. Lora que sempre a recebia com um sorriso e um constante elogio, retratando um padrão de beleza utilizado em séculos passados no qual a corpolência era um sinônimo de beleza. D Lora dizia: “ Olha a Dita, como ela está bonita! Ela está gorda!” E a história sempre se repetia em todas as visitas que se sucederam enquanto a D. Lora esteve neste mundo. Mas o "pior" da história é que a D. Ditinha, que, segundo D.Lora estava gorda e bonita, nunca foi gorda. Pelo contrário, todos que a conheceram e conhecem, sabe que ela sempre foi magrinha, com um corpo esguio e delicado. Aliás, a D. Ditinha, mãe do Carlos, da Leila, da Eliana, do Edil e do Edmir é uma senhora muito simpática e, felizmente,  goza de muito boa saúde e completará neste, seus 80 anos de vida.

Aproveito aqui para registrar, em nome de todos os amigos e familiares, nosso antecipado Parabéns e Um feliz e Abençoado aniversário! 

Por: Mauricio Menino Macedo





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